28 março 2010

Das lágrimas caem-me os olhos.

Das lágrimas caem-me os olhos. Já não vejo, mas sei que há peças espalhadas por toda a parte, por todo o meu mundo. Talvez uma bomba, uma intempérie, uma tempestade os assulou. Eles, os dispersos por toda a parte, uns jazem com um sorriso ensanguentado pelo rasgo nos lábios aparentemente de tanta felicidade. Os outros boiam em tinas de líquido lacrimal. Há pedaços, há partes por toda a parte de mim.  Há fumo, há neblina, há uma, há duas mãos que seguem à minha frente e com elas, ainda mais há frente um desejo, qualquer, que ainda não percebi qual é. Talvez o de encontrar uma a uma, talvez o de sair daqui, seja aqui onde for, para fora. Fora e dentro, fora e dentro, o meu ar não faz mais nada agora que não seja respirar. Fora e dentro. Fora e dentro. Há dentro de mim uma dor esgazeada que me sai do coração e chega às mãos. Sai das mãos e chega aos olhos, que aos molhos, me caem das lágrimas.

Imagem: "Femme qui pleure" de Pablo Picasso

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